Exposição vai integrar actividades pedagógicas de Escolas do concelho
Até ao próximo dia 29 de Dezembro, o “Ciclo do Trigo” revela-se na Sala de Leitura Bernardo Santareno, em Santarém.
Trata-se de um conjunto de 150 miniaturas talhadas pela mão de Jacinto António Ferreira que retrata em detalhe todo o processo do fabrico do pão num tempo em que o suor do homem retirava o sustento da terra.
“Não há aqui nenhuma peça com motor”, diz, por ironia, o homem que trabalhou uma vida na fábrica da Opel na Azambuja, moldando carroçarias de automóveis.
Como nos conta o autor, que recusa o título de artesão, este ciclo nasceu “por mero acaso”. O propósito era fazer uma surpresa ao filho por altura do seu 38º aniversário, oferecendo-lhe o brinquedo favorito da infância.
“O Paulo quando tinha dois anos só queria brincar com uma carroça. A minha mulher andou à procura em todo o lado e não encontrou nada que lhe agradasse. Então, decidi tentar fazer uma”, começa por contar Jacinto Ferreira.
“Assim nasceu, há quatro anos, o ‘Ciclo do Trigo’, desde que se lavra a terra até que se come o pão”, resume com rigor: qualidade que empregou na manufactura das peças que dão corpo a esta mostra, e que fará parte das actividades pedagógicas de algumas Escolas do concelho.
Para trás, ficaram mais de três mil horas de trabalho e outras tantas de pesquisa e observação de modelos reais: “o que tem uma peça grande tem uma pequena”, assegura, exemplificando que “as carroças têm travões que efectivamente funcionam”.
É na Sala de Leitura Bernardo Santareno que Jacinto Ferreira acede ser entrevistado: vai medindo as palavras, e os gestos vão de encontro a este ou aquele objecto particular.
Conhece de cor cada aresta. E nas mãos estão vincadas as horas investidas nesta obra que representa, de certa forma, um retorno à sua própria infância, quando acompanhava os pais no trabalho do campo.
A exposição, agora disponível ao público, está disposta em permanência na antiga taberna do sogro na freguesia da Aramanha, e o artigo publicado em 2006 pelo Correio do Ribatejo, testemunhando os primeiros passos deste ciclo, tem direito a moldura e faz “quase” parte da colecção, como nos confidenciou.
Hoje, Jacinto Ferreira vai poder juntar-lhe outra página, atestando que o ciclo está definitivamente fechado: “só se alguém notar que falta alguma coisa”, diz, enquanto nos guia pela mostra e vai explicando cada uma das funções dos diferentes objectos.
“Tudo é importante, mas eu acho que o pão é essencial na alimentação da humanidade. Já reparou que enjoamos tudo menos o pão?”, faz notar.
No chão estão coladas setas que apontam o percurso, mas há visitantes que começam pelo final, em contraciclo, talvez porque as peças mais vistosas, como uma ‘milord’ (charrete), baptizada por Jacinto Ferreira como o “Mercedes do século XIX”, se encontrem aí.
Tem recebido elogios rasgados, mas não se envaidece: “se era para fazer qualquer coisa, tinha de ser bem-feita”, declara com o sorriso tranquilo dos homens que sabem que encerraram um ciclo.