Há medo em São Domingos

 

Populares ponderam criar milícias numa das cidades mais seguras do país

O sentimento de insegurança no Bairro de São Domingos, em Santarém, está a alastrar entre os moradores, e alguns deles ponderam mesmo tomar em mãos o restabelecimento da ordem pública, face à alegada ineficácia das autoridades policiais.

Como foi focado na reunião de moradores de terça-feira, a falta de segurança está no topo dos problemas do bairro, a par dos actos de vandalismo, que vão degradando os espaços de utilização comum.

O constante roubo de automóveis, a uma média de dois por noite, os assaltos a estabelecimentos comerciais e algumas residências, e os desacatos frequentes na rua estão a afectar em grande medida aquela comunidade, que se sente refém de alguns elementos que já são conhecidos das autoridades.

No entanto, por serem menores, a polícia não pode actuar, como explicou o superintendente Aguinaldo Cardoso, comandante interino da esquadra da PSP de Santarém.

“Até aos 21 anos, estão protegidos pelo sistema judicial, que impede a aplicação de medidas coercivas, como a prisão preventiva, ou apresentações na PSP”, afirmou, acrescentando que tem reunido com diversas entidades, entre elas a Santa Casa da Misericórdia ou o Procurador do Ministério Público, no sentido de resolver o problema.

Intocáveis perante a Lei, os menores dedicam-se sobretudo ao furto de carros, aparentemente por diversão, abandonando-os nas imediações da cidade depois de os terem danificado.

Estas viaturas, que acabam por ser recuperadas, segundo disse o superintendente, são os “segundos carros das famílias”, geralmente utilizados pelas mães para levar os filhos à escola.

É neste fio da navalha que muitos moradores se equilibram, e por isso, têm reclamado várias vezes o reforço da visibilidade da PSP, ou mesmo a instalação de uma esquadra em São Domingos.

Esta última hipótese parece estar para já afastada, tanto mais que a tendência do Ministério da Administração Interna é precisamente a do encerramento de esquadras, mas houve recentemente um reforço de cinco agentes, depois da cidade de Fátima ter ficado sob a alçada da GNR.

“A actividade e visibilidade da polícia nas zonas mais sensíveis é uma preocupação nossa”, afirmou Aguinaldo Cardoso, lembrando a presença recente, em Santarém, de vários elementos da Reserva Nacional, com uma vasta experiência de patrulhamento em bairros problemáticos da capital, e que passaram “metade do tempo em São Domingos”.

Contudo, o responsável reconhece alguma escassez de meios, para além da elevada média de idades dos agentes dado que “há sete anos que não existem substituições”, tendo já alertado a Direcção-geral de Recursos Humanos da PSP para esta situação.

No entanto, lembrou que a cidade de Santarém é uma das mais seguras do país, onde a criminalidade violenta não tem praticamente expressão, isto apesar da proximidade com Lisboa, onde os índices de delitos graves são elevados.

Reconhecendo que o Bairro de São Domingos “é a zona da cidade que regista maior número de crimes”, o superintendente anunciou que já no próximo mês “o Corpo de Intervenção vai estar duas vezes por semana” na cidade, em operações de dissuasão, que visam precisamente “aumentar o nível de segurança nas populações”.

Filipe Miguel Mendes

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